quarta-feira, 16 de junho de 2010

copa de 1958

O Brasil jogava a final da Copa do Mundo de 1958 contra a Suécia, país anfitrião, no dia 29 de junho, em pleno verão, mas debaixo de um frio de 10 graus. Aos 4 minutos do primeiro tempo o goleiro sueco Svensson alçou a bola para um zagueiro. Em poucos e precisos passes, sem que nenhum brasileiro tocasse na bola, ela chegou aos pés do atacante Liedholm. O sueco deixou o goleiro Gilmar estatelado: 1 x 0 para os donos da casa. A defesa brasileira congelou. Era a segunda vez que o Brasil disputava uma final de Copa. A primeira, em 1950, debaixo do calor do Rio de Janeiro, Maracanã lotado, fora uma catástrofe. O time da casa perdeu para os uruguaios precisando de um empate para ser campeão.

Naquela fria tarde de verão no estádio Raasunda, em Estocolmo, voltava o fantasma da catástrofe. Mas o que se viu então foi solene, majestoso. Didi – conhecido como “o príncipe etíope”, ou “o rei de ébano”, que o cronista Nelson Rodrigues dizia correr em campo com um manto nas costas, caminhou sem pressa até o fundo do gol e apanhou a bola. Calmamente, dirigiu-se ao meio do campo para reiniciar a partida. Os suecos ainda comemoravam, e foram silenciando. Didi dizia aos companheiros que o Botafogo tinha goleado o time sueco que era base da seleção. No meio do campo, teria decretado: “Vamos acabar com esses gringos”. E acabaram, numa exibição que consagrou a equipe de 1958 como a melhor que o Brasil já teve, ainda que seja difícil comparar, porque o estilo do futebol mudou muito.

A seleção brasileira fora para a Europa desacreditada. Depois da Copa de 50 houve a decisão de trocar a camiseta e o calção dos jogadores. O Brasil jogava de branco. Em 50 mesmo se esboçou uma camisa amarela. A troca só se concretizou de fato em 1954, quando o jornal carioca Correio da Manhã lançou um concurso. Só havia uma condição: no uniforme deveriam estar as quatro cores da bandeira nacional. Venceu o escritor gaúcho Aldyr Schlee, de Jaguarão, cidade fronteiriça com o Uruguai, que tinha a fama de torcer... pelos dois países!

Mas em 1954 a nova camisa afundou num dos grandes fiascos da seleção brasileira. Na Alemanha, o Brasil foi desclassificado depois de uma vitória, um empate e uma derrota por 4 x 2 para os maravilhosos húngaros. Estes, os favoritos, terminariam derrotados na final pelos alemães, num jogo em que saíram vencendo por 2 x 0 e perderam por 3 x 2. Para completar, o Brasil se classificara em 1958 depois de um empate sofrido com o Peru, em Lima, em 1 x 1, gol de Índio (centroavante do Flamengo), e uma vitória medíocre contra o mesmo time por 1 x 0, no Maracanã, gol de Didi, de falta.

O Brasil estreou em 8 de junho, em Gotemburgo, contra a Áustria, derrotando-a por 3 x 0, dois gols de Mazzola e um golaço de Nilton Santos, médio-esquerdo. Depois o Brasil pegou a Inglaterra, dramático 0 x 0, num jogo em que o goleiro McDonald defendeu tudo e o Brasil quase perdeu. Consta que após esse jogo teria havido uma reunião de alguns jogadores com o técnico Vicente Feola. Contra o time da rainha, Dida, machucado, cedera lugar a Vavá. Segundo algumas versões, jogadores teriam “exigido” a saída de alguns e a entrada de outros. Outras versões dizem que eles teriam “pedido”. E há ainda quem negue tudo, inclusive a reunião. O fato é que contra a União Soviética, a seguir, o Brasil jogou mais ofensivo, mais brilhante, mais tudo. Garrincha entrou no lugar de Joel e logo de começo driblou meio mundo e acertou uma bola na trave.

O goleiro soviético era o melhor do mundo, o legendário Yashin, o Aranha Negra, que jogava de uniforme preto e boné. Não adiantou: foram dois gols de Vavá, Brasil
2 x 0. Começou a se construir a equipe que seria consagrada na final contra os suecos: Gilmar; Djalma Santos, Bellini, Orlando e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagalo. Uma coisa ficou patente: a seleção da estréia tinha um perfil, digamos, sem querer ofender ninguém, muito europeu. A seleção final era muito mais morena, “abrasileirada”, cafuza, de cores muito mais confusas, misturadas. E alegres. Um caso paradoxal foi o de Djalma Santos e De Sordi: este jogou todas as partidas, menos a final. Djalma só jogou a final. E quem é lembrado é ele, e não De Sordi, que aliás foi indicado para a seleção do mundo pelos jornalistas.

Depois da União Soviética (que disputava uma Copa pela primeira vez), o Brasil jogou contra País de Gales, uma equipe aguerrida, mas de pouca técnica, classificada num jogo de repescagem contra Israel. (Em 1958, pela primeira vez seleções asiáticas e africanas disputaram uma vaga.)

O resultado foi se fecharem numa defesa inexpugnável até os 26 minutos do segundo tempo, quando Pelé, numa jogada maravilhosa, enfiou a bola nas redes. Depois o Brasil pegou a França, uma das favoritas, que trazia dois monstros sagrados: Just Fontaine, maior goleador da história das Copas, com 13 gols em seis jogos, e Kopa, que teria Didi pela frente. Arrasou: 5 x 2. A partir do segundo tempo a França jogou com 10, pois um de seus volantes se machucou e não se permitiam substituições. Nesse jogo houve várias consagrações. A primeira foi a jogada clássica com que o Brasil abria o placar: Didi servia Garrincha, que passava pelo marcador como chuva por peneira, ia à linha de fundo e centrava para Vavá emplacar.


patrick:)

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